CIOs sofrem com a falta de talentos em TI no Brasil
Maior desafio dos gestores é encontrar profissionais qualificados
com conhecimento de negócios para entregar soluções de acordo com as exigências
da companhia
Edileuza Soares
25 de maio de 2012 - 07h30
A falta de mão de obra especializada em TI no Brasil preocupa os CIOs. A
maioria das empresas do setor hoje no País tem vaga aberta mas não consegue
encontrar os talentos certos. Para alguns, a saída é capacitar profissionais
internos de acordo com as exigências do mercado.
O problema que o Brasil enfrenta com risco de apagão de mão de obra de TI
aqueceu as discussões durante a IT Leaders Conference 2012, evento realizado em
Arraial D'Ajuda entre os dias 23 e 27 de maio. CIOs revelaram que sofrem com a
escassez de bons talentos. Eles têm dificuldade para encontrar não apenas
profissionais com conhecimento técnico.
Para Fausto Flecha, CIO da Mendes JR, o maior desafio hoje é achar analistas
de negócios. Com a pressão sobre a TI para que entenda cada vez mais das
necessidades das áreas de negócios para entregar soluções adequadas, os gestores
precisam ter esse tipo de talento em seu time.
O problema é onde achar especialistas em TI com veia de negócio no momento em
que o Brasil registra um déficit de mais de 90 mil profissionais qualificados,
segundo estimativas do Observatório Softex Sociedade Brasileira para Promoção da
Exportação de Software.
Como o setor de TI cresce acima de 10% ao ano, as previsões das entidades de
classe são de que esse número aumente mais ainda. Os bons profissionas já estão
empregados e as universidades não conseguem formar mão de obra com a velocidade
que as empresas precisam, nem de acordo com as exigências que o mercado está
pedindo.
Para Wanderson Alves, gerente de TI da Vilma Alimentos, o problema da falta
de mão de obra especializada é questão de educação. Ele observa que há um
descompasso entre universidades e mercado de trabalho e que falta foco. “Hoje há
falta de profissionais em todas as áreas”, comenta.
Flecha constata que o mercado de TI deixou de ser sexy, ou seja, não desperta
tanto interesse dos jovens que estão entrando na faculdade. Eles preferem outros
cursos, o que contribui para aumentar o déficit de especialistas no setor.
Diante desse dilema, Jedey Miranda, CIO e COO da Europ Assistance, afirma
considera que aumenta mais ainda a responsabilidade dos gestores de TI, que
precisam repassar conhecimento para novos talentos. A geração Y é sua
esperança.
Na opinião de Felipe Ávila, gerente de equipe de suporte técnico da
Brasilcap, as empresas precisam ter estratégias agressivas de retenção para
segurar os bons talentos. Ele também acha que as questões de capacitação não são
um problema para a TI resolver. "Quem tem de cuidar disso é a área de RH. A TI
sempre acha que pode resolver tudo", afirma.
Como não encontra os talentos que precisa, Jens Hoffmann, CIO da ZF do
Brasil, diz que tenta às vezes tirar talentos da concorrência, embora saiba que
esse não é melhor caminho. Sérgio Diniz, CIO da Terex Brasil, discorda desse
tipo de estratégia. Ele acha que as empresas "têm mais e que por a mão no bolso
e investir na qualificação de seus talentos em vez de ficar chorando". "Se não
investirmos não vamos ter bons profissionais", diz.
Diniz, que acaba de chegar na Terex Brasil, dá como exemplo de experiências
bem-sucedidas a iniciativa da SAP que, ao montar o seu laboratório de
desenvolvimento em São Leopoldo (RS), contratou profissionais de negócios e os
capacitou em TI. Ele acha que hoje é muito mais fácil treinar gente de negócios
em TI do que o inverso, como estão tentando muitas companhias.
Alternativas
Existem várias iniciativas no Brasil para reduzir o gap da falta de mão de
obra. As próprias companhias estão tentando capacitar talentos por meio de
universidades corporativas e também em parceria com universidades.
Há outras ações para capacitação de talentos de TI em determinadas
tecnologias como é o caso o Instituto Esperansap, criado pela SAP com apoio de
integrantes de seu ecossistema para formar especialistas nas plataformas da
companhia.
Segundo o CIO da BN Construções, Marcos Pasin, que é presidente do Instituto
Esperansap, criado há dois anos no Brasil, já foram formados mais de 300
profissionais SAP. A entidade sem fins lucrativos capacita pessoas entre 30 e 40
anos, que tenham formação nas áreas de negócios e que estão fora do mercado de
trabalho.
Eles recebem gratuitamente um treinamento na academia SAP, que hoje custa de
12 mil a 15 mil reais. O curso dura de 22 dias a um mês e, ao final, o aluno tem
grande chance de ser contratado por uma das parceiras SAP. Segundo Pasin,
somente a SAP tem um déficit de 5 mil profissionais no Brasil. Assim, 80% dos
300 talentos capacitados pelo Esperansap estão no mercado de trabalho.
"O instituto forma gente de baixa renda que tem conhecimento em negócios.
Para nós, é importante ter profissional porque ele vai render mais que os
especialistas em TI", acredita Pasin.
Esse profissional passa por um grande filtro até conseguir essa chance. Cada
turma que abre tem uma média de 2 mil candidatos para 40 vagas. Os cursos da
Esperansap são ministrados em cidades onde há maior demanda por especialistas
SAP e podem ser realizados em parcerias com empresas. Pasin dá o exemplo de uma
turma montadas em Minas com apoio da Usiminas.
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